sábado, 23 de janeiro de 2010

Manu Velho



Às 6:30 da manhã acordo. Às 7:00, saio de casa. Às 9:40 como alguma coisa pra despistar a fome. Às 13:00, almoço. Mas não é assim pra todo mundo. Talvez a gente possa nos diferir pelos nossos próprios horários malucos. O servente do pedreiro que está trabalhando aqui perto da minha casa deve levantar mais ou menos no mesmo horário que eu. Mas nossas vidas tomam rumos diferentes a cada vez que o sol nasce outra vez. Às 7:00 ele começa a trabalhar. Às 9:40, continua trabalhando. Ao meio dia recebe sua marmita e come calado. Come quieto como bom mineiro. Às 17:00 ele recebe seus míseros trinta reais diários e volta pra casa. Encontra a esposa, talvez mal-humorada, reclamando das contas que chegaram. Ou quem sabe feliz, pelo simples fato de ter vencido mais um dia. Encontra os filhos chupando o dedo. E talvez ele chupe o dedo também. Quando estava voltando da viagem que fiz para a praia, vi um moço pela estrada, de madrugada. O relógio devia estar marcando umas 4:00, no máximo. Ele caminhava como quem já não quer nada.

Desde muito antes de Cristo as pessoas já sentem essa necessidade maluca de serem controladas pelo tempo. Relógios de sol, de água, de areia. Relógios de pêndulo, de parede, de bolso, de pulso, digitais. Desapareceu do mapa o nosso relógio biológico. Somos controlados e cruelmente limitados por ele, que dita todas as regras. Que diz a hora certa de almoçar, jantar, acordar, ir dormir, sair para o trabalho, voltar pra casa, dormir com a esposa.

Quem acorda depois das nove é preguiçoso e não quer saber de nada. Onde já se viu? Quem acorda antes do despertador é ativo, animado, disposto, trabalhador. E “Deus ajuda quem cedo madruga”, então ta aí uma pessoa de sorte. Quem almoça as dez da manhã é um descarado, insano de tudo, totalmente sem noção. Perdido na vida. Dá dó. Quem almoça depois das três da tarde é um tremendo farrista. Festeiro nato, é claro. Deve ser meio folgado, não quer saber de trabalho e deixa a vida levar. Ah, e é provável que esteja comendo churrasco enquanto você, pessoa normal que acorda as seis pra trabalhar, faz o horário de almoço direitinho ao meio dia e chega de volta na hora certa todos os dias e às vezes faz até hora extra, que é pontual, trabalhador e correto com suas obrigações, que janta no horário certo e dorme cedo, está aí. Pois ainda digo que quem dorme tarde demais é meio vagabundo. Não tem muito o que fazer, provavelmente não tem emprego ou ocupações. Ah, e o que esse alguém fica fazendo até tão tarde também é de produtividade duvidosa. Talvez assista programas inúteis na televisão, talvez entre em sites de pornografia na internet, enfim. Esse é o perfil dos que arrastam madrugada afora de olhos bem abertos. Afinal, pessoas equilibradas dormem cedo, portanto assistem ao Jornal Nacional, à novela das nove e, quando muito, ao BBB. Certo?

Errado. É muito chato viver nessa correria idiota que a gente vive. Corremos sem saber pra onde, sem saber se chegaremos inteiros. E quase nunca chegamos. E a cada parada estamos mais vazios. A cada ponto em que paramos pra respirar, menos ar consegue chegar aos nossos pulmões e menos gente conseguimos enxergar, de fato, ao nosso lado. Tanta gente que desceu na estação anterior. Tanta gente que já se foi, não agüentou a pressão. Estamos sós. A nossa companhia é o tempo, nosso próprio assassino. Cada segundo é um segundo a mais e um segundo a menos. Um segundo que chegou e que se foi, muito antes de você notar. Não deu tempo nem de piscar os olhos e mais um ano de passou. Um ano, dois, três, quatro... Uma década. De vida.

O que a gente faz da vida da gente é responsabilidade nossa. Não, o acaso não tem culpa. O destino não é tão cruel assim. É errado a gente sempre se esconder na fatalidade e se consolar com impossibilidades. Mas é certo a gente pensar direito no que queremos para o próximo segundo, que era futuro, se fez presente e virou passado antes de você ler. Já dizia Cazuza, que o tempo não pára e a gente ainda passa correndo. Ouvi hoje uma coisa muito inteligente: pra gente conseguir ter orgulho do nosso passado, precisamos estar satisfeitos com nosso presente. Satisfação no hoje é isso. É presente.

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